Um esquema bilionário de descontos indevidos em benefícios do INSS abalou os bastidores da política nacional, revelando conexões com sindicatos, partidos de diferentes espectros ideológicos e figuras próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A investigação, que teve origem no Ministério Público Federal (MPF) de Feira de Santana (BA), expôs uma rede que operava há anos com a conivência de autoridades e omissão de órgãos de controle.
O Esquema
A fraude consistia em descontos automáticos nos contracheques de aposentados e pensionistas do INSS, supostamente para filiação a sindicatos e associações de aposentados. No entanto, a maioria dos beneficiários sequer sabia que estava associada ou autorizava os descontos. Segundo a Controladoria-Geral da União (CGU), 97% dos entrevistados afirmaram desconhecer os débitos.
As entidades envolvidas arrecadaram mais de R$ 2 bilhões entre 2021 e 2024. O Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados), por exemplo, viu sua receita saltar de R$ 100 milhões para mais de R$ 300 milhões no período.
Ligações com o Governo e o PT
Entre os nomes que chamam atenção está o de Frei Chico, irmão mais velho do presidente Lula e vice-presidente do Sindnapi. Ele aparece em fotos comemorando o Ano-Novo de 2024 na mansão de Milton Cavalo, presidente do sindicato e figura central no escândalo.
Cavalo é apontado como responsável por uma série de reformas luxuosas em uma propriedade rural em Ibiúna (SP), incluindo piscina, estábulos e uma casa de 360 m². Embora o imóvel não esteja em seu nome, é utilizado por ele e por Frei Chico. Questionado, Cavalo afirmou que as melhorias foram feitas com recursos próprios.
Partidos e Cargos Envolvidos
O escândalo atravessa governos e partidos. Estão implicadas figuras ligadas ao PT, PDT, PSB, PL, PSD e Republicanos. Entre os nomes citados:
Demora na Ação do Governo
Apesar de alertas desde 2023, o governo federal demorou a agir. Reuniões do Conselho Nacional do INSS e relatórios da CGU apontaram irregularidades, mas nenhuma medida efetiva foi tomada até a deflagração da operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal, em abril de 2025.
A operação apreendeu bens de luxo, como uma Ferrari e um Rolls-Royce, e bloqueou contas de dirigentes sindicais. Doze inquéritos foram abertos.
A Denúncia em Feira de Santana
O ponto de partida da investigação foi uma denúncia feita ao MPF em Feira de Santana, na Bahia. A partir de irregularidades em entidades locais, o caso ganhou dimensão nacional. A atuação do MPF foi crucial para romper o silêncio institucional que protegia o esquema.
A reportagem segue acompanhando os desdobramentos da investigação. Se confirmadas as suspeitas, o caso pode se tornar um dos maiores escândalos envolvendo a máquina pública e entidades sindicais desde a redemocratização.